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A História da Família de Anne Frank



É conhecida no mundo inteiro a história da menina judaica que junto com sua família foi protegida num esconderijo com a ajuda de benfeitores. A menina de olhos doces cujo nome é Anne Frank ficou mundialmente conhecida pelos seus relatos pungentes em seus Diários que muito depois foram compilados e publicados com a organização de seu pai, Otto Frank, juntamente como Mirjan Pressler.
 
Embora no Diário Anne se disponha a contar o cotidiano de uma adolescente da época em plena Segunda Guerra Mundial, bem como a rotina do esconderijo e outras informações pessoais, tais como paixão, escola e amigos, ela não conta muito da história de sua família.
Esta lacuna permaneceu no vácuo até que Mirjan Pressler, estudiosa e especialista na obra de Anne Frank, organiza juntamente com Gerti Elias A história da família de Anne Frank (Grüße und Küsse an alle, Tradução de Andre Delmonte, Herta Elbern e Marlene Holzhausen, Editora Record, 406p, 2016, R$49,90) num livro preenchido por correspondências encontradas no sótão da casa de Buddy Elias, primo de Anne. 

Depois de quase um século, foram encontradas mais de mil cartas, documentos e fotos, que tem um grande significado para a história da família Frank e, ao mesmo tempo, coloca mais claramente em evidência a própria Anne. Esses documentos, organizados e editados por Gerti Elias, esposa de Buddy, são a base para a história familiar aqui apresentada. Trata-se de cartas e documentos que já foram parcialmente publicados e de outros que permanecem inéditos.
 
Com a publicação e organização dessas correspondências em narrativa, a história de Anne Frank ganha novos contornos, novas informações e novos detalhes de seus ascendentes. Assim, o livro inicia contando de forma poética, quase infantil, uma temporada de férias que a família Frank passou nos Alpes Suíços. Lá, ficamos sabendo do espírito familiar que compunha os Frank’s. Depois desse pequeno preâmbulo, o livro divide-se em três partes.

A primeira parte (Alice Frank, nascida Stern (1865-1953) avó de Anne) é predominantemente desenvolvida contando a história e vida da avó de Anne, Alice Frank. Nesta parte conhecemos a origem da família, bem como os avós de Anne se conheceram e se envolveram até dar à luz aos pais daquela menina que escreveria um dos diários mais comoventes da história da humanidade. Nesta parte também encontramos como os tios de Anne se dispersaram e como era o cotidiano da família.

A segunda parte (Helene Elias, nascida Frank (1893-1986) Tia de Anne) conta com maiores detalhes como era o cotidiano da família, antes e durante o esconderijo, antes e durante a Segunda Guerra, o período sem as cartas que os familiares escreviam uns para os outros e principalmente as de Otto Frank, pai de Anne. Nessa parte também encontramos como era o dia a dia dos judeus. E isso é estupidamente lindo perceber como sua religiosidade proporcionava momentos alegres e divertidos. Mas aqui o leitor pode se preparar. Pois esta parte foi, para mim, a parte mais dramática, comovente e dolorosa. É difícil ler cartas de um pai anunciando à família que sua filha foi pega e morta pelos nazistas. É de arrepiar o trecho das cartas nas quais os familiares tentam confortá-lo com cartas afetuosas e reconfortantes. 
 
A terceira e última parte (Buddy Elias (1925-2015) Primo de Anne) concentra-se nos relatos do próprio Buddy em contar suas experiências como ator na construção de uma peça teatral sobre o Diário de Anne Frank e, em seguida, na produção de um filme homônimo. É uma parte bem nostálgica, não menos que as outras, mas ainda assim muitos trechos saudosos da família.

É um dos livros mais comoventes que já li. Você pode lê-lo rapidamente, já que se trata de um livro em que predomina as epístolas com poucas (mas essenciais) intervenções de Mirjan Pressler e Gerti Elias. Toda história familiar favorece-nos uma empatia, devido os seus laços familiares e memórias espirituosas. Mas, certamente, a história da família Frank deixa qualquer leitor comovido. A shoah não transformou em tragédia só a vida de muitas famílias, mas do mundo inteiro.
 
O livro conta ainda com um prólogo, epílogo e um comovente e primoroso posfácio escrito por Gerti Elias, esposa de Buddy Elias, que era primo de Anne. No final do livro ainda podemos encontrar a árvore genealógica das famílias Stern, Frank e Elias. A tradução é de André Delmonte, Herta Elbern e Marlene Holzhausen.
 
A edição brasileira contém fotos (algumas delas compõem esta postagem) e carta inéditas na íntegra da família Frank, deixando aguçada em nossa memória uma dor vivida por toda a família.
 
 SOBRE AS AUTORAS:
Mirjam Pressler é escritora e tradutora. Traduziu O diário de Anne Frank e publicou quase quarenta livros de grande sucesso. Recebeu diversos prêmios, entre eles o Prêmio para Literatura Juvenil; a medalha Carl-Zuckmayer pelos seus méritos em favor da língua alemã; o Prêmio do Livro Alemão (Livro Infantil) em 2002 pela obra Malka Mai; e o Prêmio do Livro Alemão de 2004 pelo conjunto da obra.
Gerti Elias nasceu em 1933. Formou-se como atriz e trabalhou nos principais palcos da Alemanha, Áustria e Suíça. Casou-se em 1965 com Buddy Elias, primo de Anne Frank. Em 1986, o casal mudou-se para uma propriedade da família de Buddy em Basileia. Ao arrumar o sótão da casa, Gerti descobriu milhares de cartas, documentos e fotos da família. O acervo levou 2 anos e meio para ser organizado e transcrito. Em 2007, Gerti recebeu o título de Doutora honoris causa da Universidade de Basileia.
CURIOSIDADES:
  • A obra completa de Anne Frank ganhará neste ano de 2017 uma versão em quadrinho
  • Buddy Elias faleceu em 2015
  • A polêmica em torno dos Direitos Autorais do Diário está longe de acabar. Uma vez que, embora a autoria seja da Anne, o organizador (que recebe os direitos autorais como autor) é o pai de Anne, Otto Frank. Com isso, a obra ainda vai demorar muito tempo para entrar em domínio público. Otto Frank morreu em 1980)
  • O Diário de Anne Frank é o livro mais vendido da Editora Record, editora que detém os direitos autorais no Brasil do Diário.
  • O Esconderijo de Anne Frank pode ter sido descoberto por acaso, relata uma das principais reportagens de 2016
  • Você pode fazer aqui uma visita 3D ao esconderijo de Anne Frank
 
 
Imagens retiradas da edição brasileira do livro.

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