Pular para o conteúdo principal

O Quinto Evangelho - Iann Caldwell

 *Resenha elaborada pela Colaboradora Juliene Lopes

SINOPSE:
Nos últimos meses do pontificado de João Paulo II, uma misteriosa exposição é montada nos museus do Vaticano. Seu curador, Ugo Nogara, alega ter descoberto um grande segredo com base em pistas fornecidas pelos quatro evangelhos - e um quinto, um manuscrito milenar que reúne todos eles, o Diatessarão - sobre a relíquia mais controversa do catolicismo: o sudário de Turim. Segundo ele, há provas concretas de que o sudário é autêntico. No entanto, suas descobertas podem pôr fim aos esforços do papa para reconciliar as duas maiores igrejas cristãs do mundo: a católica romana e a ortodoxa.
No centro desse conflito, dois irmãos seguem rumos diferentes pelas vielas do Vaticano. Simon é padre da igreja católica romana, com um futuro promissor. Alex, o mais novo, é sacerdote da igreja católica oriental, uma vertente entre a igreja de Roma e os ortodoxos.
Quando Alex recebe uma ligação de Simon pedindo sua ajuda, não imagina que o encontrará diante do corpo de Ugo Nogara, morto uma semana antes da abertura da polêmica exposição. Na mesma noite, a casa de Alex é invadida por um estranho. a polícia não consegue encontrar um suspeito, e o sacerdote inicia sua investigação.
Para encontrar o culpado, Alex precisa descobrir a qualquer custo o segredo mantido por ugo. Mas, à medida que começa a compreender a verdade, ele percebe que terá de derrotar um inimigo sem rosto para salvar a própria família.



IMPRESSÕES: Antes de opinar sobre este livro, faço uma confissão: nunca gostei de histórias sobre Igrejas e teorias de conspiração. Tendo isto em vista, foi com certa desconfiança que olhei e li O quinto evangelho. Para minha grata surpresa, a leitura foi muito prazerosa. Não pelo enredo em si, mas pela forma didática como Ian Caldwell nos explica a Igreja Católica (descobri que pouco sei sobre suas estrutura, normas e fundamentos) e pelo brilhantismo de seus personagens. Há uma trama principal, com um assassinato misterioso, onde o intuito de quem praticou o crime é preservar a Igreja. Atrelado à esta trama, há personagens que possuem carisma, força, extremamente humanos.

Pessoalmente, foi impossível não me deixar cativar pelos irmãos Alex e Simon. Alex possui filho e uma esposa - Mona - que o abandonou logo após dar início ao que parece ser uma depressão pós-parto. Ele salienta as peculiaridades de crescer por trás do muro do Vaticano e é através dele que somos ensinados sobre a Igreja e suas denominações. Alex é homem devotado ao filho, a relação dos dois envolve ternura, respeito e leveza. O que dizer de Mona, esposa quase pródiga de Alex? A figura dela despertou-me vários questionamentos sobre a mulher, seu papel na família. Simon, o irmão mais velho de Alex, sente um amor profundo pelo mundo e pela vida, mas que desde o início me fez lembrar de Drummond no poema "O sentimento do mundo". Simon carrega a culpa de quem pensa ser o responsável pelo bem-estar de todos, quando na verdade uma vida plena está nas mãos de cada um. É um homem que sonha os sonhos do próprio pai, que ao falecer tinha como maior desejo ver as duas Igrejas Católicas (Romana e Ortodoxa) unificadas.

Caldwell demorou onze anos para desenvolver sua narrativa e para mim vai além: é uma história sobre amor e perdão. Perdoar ao próximo e principalmente a si mesmo. O Quinto Evangelho é sobre liberdade.


Sobre o Autor:
Comparado pela crítica norte-americana a Umberto Eco e Scott Fitzgerald, Ian Caldwell é coautor do best-seller O enigma do quatro, que vendeu mais de 2 milhões de exemplares nos Estados Unidos e foi traduzido para 35 idiomas.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

[Curiosidades] Xingamentos em um português culto

Se é pra xingar, vamos xingar com um português sofisticado. Aqui neste post você vai ler algumas palavras mais cultas e pouco usadas quando se quer proferir uma série de palavrões onde a criatura não entende patavina nenhuma. Antes, porém, de você aprender algumas palavrinhas, conheça esta historieta: Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:  - Oh, bucéfalo anácrono!Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o

Resistência do amor em tempos sombrios

Terceiro e último livro de uma trilogia que a escritora gaúcha iniciou com A casa das sete mulheres, o volume Travessia encerra a Trilogia Farroupilha com um personagem que, no dizer da autora, é comum a toda a história: Garibaldi, este carismático personagem que aparece no início do primeiro livro, quando principia um amor platônico com a meiga Manuela, a filha do Bento Gonçalves. Mas como já acompanhamos nos volumes anteriores, a família da moça não compactua com o romance, impedindo, pois, o contato de ambos. Se no primeiro livro a escritora se atém a contar a história da família concomitante à Revolução Farroupilha, tendo como cenário a Estância da Barra, a casa na qual ficaram 7 mulheres da família de Bento Gonçalves, no segundo volume já temos como plano histórico a Guerra do Paraguai, além de mudar a perspectiva para o romance de Giuseppe e Anita, a mulher atemporal que provoca uma paixão no general e guerreiro italiano. Ana Maria de Jesus Ribeiro, ou Anita, sempre dava um

De Clarice Lispector para Tania Kaufmann

Conforme eu tinha anunciado ha meses, o blog Papos Literários divulgará com frequência uma série de cartas famosas do mundo da literatura ou da música. Hoje trago na íntegra a carta de uma das escritoras mais queiridinhas dos brasileiros, além de ser famigerada nestes tempos de facebook ee twitter. Confira a f amosa carta de Clarice para a sua irmã Tania Kaufmann. Clarice em sua árdua tarefa de escrever _____________________________________________ A Tania Kaufmann Berna, 6 janeiro 1948 Minha florzinha, Recebi sua carta desse estranho Bucsky, datada de 30 de dezembro. Como fiquei contente, minha irmãzinha, com certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida ! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar