Atenção.
Para melhor compreensão deste conto, leia Prelúdio dessa história está aqui.
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Para melhor compreensão deste conto, leia Prelúdio dessa história está aqui.
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No escritório
Ao chegar em casa com o volumoso
livro que acabara de comprar, seu Benedito afastou de cima da mesa alguns
papeis, colocou a publicação antiquíssima cuidadosamente entre panos e escreveu
alguma coisa numa caderneta.
Ligou para o jornal local e ditou
o aviso que redigira.
“Procura-se um jovem leitor que
disponha de tempo para dedicar horas à leitura do livro Crime e Castigo para um
senhor idoso e debilitado. Por favor, os interessados procurem o senhor
Benedito na rua Donalsdon, número 835”
Tão rápido o aviso foi posto no
jornal local, como tão rápido foi a chegada do primeiro candidato ao posto de
leitor. Era inédito naquela pacata cidade alguém ser pago para ler. Mas como
veremos, não era por prazer que o jovem leria para o ancião...
- Bom dia, Sr. Benedito. Chamo-me
Arthur. Vi o aviso no jornal que o senhor...
- Oh. Você é o primeiro rapaz que
aparece. Está mesmo com muita vontade de ler, hein?
- haha. Sim. A propósito, onde
está o livro? Quando quer começar a escutar a história do Raskólnikov? Onde
acha melhor, aqui na sala, no escritório...
- Calma, meu jovem. Calma. Ainda
preciso fazer com você um teste. Preciso saber qual o seu ritmo de leitura, a
sua tonalidade. O que acha?
- Ah, sim. É conveniente. Vamos
lá, então.
No escritório, enquanto fazia o
teste, Arhur realizava uma análise atenta do seu interior, olhou atentamente a
escadaria, os móveis antigos, a escrivaninha e as estantes preenchidas por
edições e coleções de livros velhos que ocupavam boa parte do cômodo. Em seu
pensamento, Arthur calculava quanto o velhinho já gastara em livros e fazia
também os seus planos, caso fosse ocontratado.
- Bem, como estou apressado para
conhecer a história e você não tem problemas ao ler, será você mesmo o
contratado.
- Fico feliz por ter me selecionado
mesmo sem conhecer os futuros candidatos.
- Gostei de sua disposição, meu
jovem.
Não estaria o Sr. Benedito sendo
muito precipitado em contratar o primeiro interessado? Por que não esperar mais
algum tempo para analisar os perdidos candidatos ao cargo de leitor de Crime e
castigo? Seu Benedito viu em Arthur algo que poderia ajudá-lo a cumprir seu
objetivo. E era por isso que ele contratou tão rapidamente o jovem de apenas 22
anos.
- Então, até amanhã, Ar... Arthemi...
- Arthur!
- Ah, sim. É Arthur! Bem.
Espero-lhe amanhã às 8:00 para tomarmos café e começarmos a leitura.
- Será um prazer. Até amanhã, seu
Benedito.
Nesta mesma manhã, corria pela
cidadela boatos do inédito aviso posto no jornal. Houve aqueles que acharam
curioso alguém contratar uma pessoa para ler um livro. Outros já acharam a
iniciativa positiva e já pensavam também em negociar com alguém para fazer
companhia junto a um parente já esquecido ou ainda para aqueles que na solidão
precisam estar junto de uma pessoa. E o livro, era claro, a melhor companhia.
- Que absurdo! Um jovem como
Arthur receber um dinheirão do velhote somente para ler um livro?! Logo ele,
que nunca quis nada na vida, nem na escola. Como seu Benedito ousou assalariar
aquele malandro? – Dizia um passante na rua para seu acompanhante.
- Decerto ele não conhece a
índole do rapaz, ora. – Respondia o outro.
- Pois alguém tem que avisá-lo a
tempo. Arthur tem artimanhas. Não é a toa que ele foi o primeiro a responder o
aviso do jornal. – Continuava o passante.
- Deixe disso! Pode ser que
Arthur realmente esteja querendo compensar suas malandragens com um pouco de
bondade lendo para o seu Benedito.
- Se Benedito Richeliou fosse
pobre, eu acreditaria. Mas sabendo de sua riqueza e dos atos praticados por
aquele rapaz, eu não tenho tanta certeza disso.
Em poucas horas, a cidade estava
em burburinhos com o acontecido. Cidade pequena, povinho levado a comentar
sobre a vida alheia até que alguém ligou para a mansão Richeliou e lembrou seu
Bendito sobre o comportamento do rapaz.
- Não se preocupe. Eu agradeço
pelo seu interesse em me avisar ou me prevenir. Mas eu sei o que estou fazendo.
Acredito que a leitura pode transformar as pessoas. Vamos dar uma chance pra
ele. – Respondeu seu Benedito, que após desligar o telefone, sentou-se na
poltrona, pôs-se a massagear o livro e refletir sobre seus planos...
Aos 68 anos, Benedito tinha a
esperteza do mundo e tinha consciência dos seus atos, pois ele, assim como
Arthur, também tinha planos. Planos que poderiam definir o futuro dos dois, mas
um deles de forma trágica.
(Não perca na próxima crônica urbana: "No escritório - Parte 2" )
(Não perca na próxima crônica urbana: "No escritório - Parte 2" )
Uau, que legal! Um blog que posta crônicas! Apesar de ser contraditório, se pensar bem, mal se vê esse gênero difundido pela internet. Há mais resenhas, poemas, pequenas mensagens de reflexão. Que saudade de uma crônica genuína!
ResponderExcluirTHIAGOOOOO como eu adoro essa história do Benendito! Ficou muito legal, deixou um clima de suspense e mistério que me corrói. Cadê o próximo número?!
ResponderExcluirbjão!
Muito bom! Sabe quando você começa a ler um texto, mas sem muitas expectativas? Somente pra passar o tempo e quando vê, já era, se sente envolvido pela história ao ponto de ficar triste por ter acabado? Acabou de acontecer comigo! Simplesmente incrível, acho que nem é necessário avisar que já estou seguindo o blog e aguardando ansioso pelos próximos capitulos haha
ResponderExcluirAbraços,
Vitor Dutra http://maredelivros.blogspot.com