Puxe uma cadeira, sente-se e ouça as histórias costuradas de duas mulheres...
É nisso que se resume o livro "AS PRECES SÃO IMUTÁVEIS" (Sá Editora, Tradução de Marco Syrayama, 182 páginas, R$ 33,00). A Segunda Guerra Mundial tem servido de fonte de inspiração para muitas músicas, cinema e literatura e é importante frisar bem aqui, inspiração com muito drama... E é esse um dos temas tratados no livro, onde o escritor Tuna Kiremitçi escreve de forma peculiar a vida sofrida de duas mulheres.
Após ver estampado em um jornal o anúncio "Procura-se alguém que saiba turco" a jovem estudante turca Pelin, decide atender o pedido da senhora octogenária Rosella Galante para conversar em turco, pois receosa de esquecer a língua, teme também esquecer a sua história. Então, a proposta de emprego da senhora é simples: conversar em turco...
Assim, Pelin é introduzida na casa e na vida de Rosella Galante. Rosella é uma senhora que no período da Segunda Guerra Mundial refugiou-se em Istambul, sendo separada de seu marido. No tempo em que se dá o diálogo entre as duas, a senhora já está vivendo numa capital europeia. Todas as quinta-feira, a jovem desloca-se de seu apartamento (onde divide com uma chata companheira) para a residência da velhinha, a fim de interagir em turco. Se no início do livro, a jovem é tímida, no decorrer das conversas é ela quem vai fazendo mais interrogações à experiente Rosella. Esta, vai contando a outra suas histórias, dramas, vicissitudes e contrariedades que a vida lhe impôs. Apesar do contraste das gerações, acompanhamos o desenvolver de uma amizade profunda e sincera entra as duas pessoas que compartilham fatos da vida e descobrem ter muitas semelhanças.
As duas mulheres conversam sobre os variados assuntos: música (sobretudo rock), literatura, política, amor e sexo, claro.
À maneira de Penélope, personagem do clássico "A Odisséia", as duas personagens de "As preces são imutáveis" fazem de cada capítulo um retalho para compor toda a história de ambas, pois uma delas sempre deixa para o encontro seguinte o término da história. É dessa forma que o autor do livro prende a atenção do leitor.
Tuna Kiremitçi nos 20 capítulos não dá vazão a sequer uma descrição de lugar ou narrador onisciente ou qualquer outro tipo. Parece texto teatral ou mais precisamente uma peça com dois personagens. Há somente duas pessoas que falam: Rosella e Pelin. TODAS as outras personagens e falas destes são reproduzidas pelas duas interlocutoras. De forma quase teatral, o texto do escritor turco é sintético e sensível, desprovido de descrições ou narrações enfadonhas, como você pode perceber nesse trecho:
- A senhora está bem?
- Não sei.
- Deite-se no sofá, se quiser.
- Sim, é melhor. Se você não se importar.
- Seu rosto está pálido. Devo chamar um médico?
- Ainda não.
- O que estamos esperando, senhora Rosella?
- Não precisa entrar em pânico... Talvez se eu me deitar um pouco... Tive uma semana difícil... Conheço os sintomas, mas é a
a primeira vez que eles atacam de uma vez, de uma forma tão organizada.
- Porque não avisou?
- Você não poderia ter feito nada se eu tivesse avisado... Você pode deter o tempo? Você pode achar um remédio para a velhice?
- Não, mas posso segurar suas mãos. Assim...
- Você é um verdadeiro anjo.
- Imagina.
As seções das duas é interrompida certo dia quando Rosella deixa uma carta à Pelin. É aqui onde eu achei que o final poderia ser melhor, achei-o inconcluso e aberto a diversas interpretações, pois eu esperava que o escritor Tuna Kiremitçi fosse mostrar a reconciliação da jovem Pelin com sua família ou descrever mais sobre o desenrolar da história familiar de Rosella.
Em "As preces são imutáveis" você acredita que não existe limite para o amor (como de fato não existe mesmo), o perdão ou qualquer outro sentimento bom e humano.
O livro, que foi traduzido diretamente do turco para o português por Marco Syrayama de Pinto é o primeiro da literatura turca moderna que estreia o selo editorial Gesto Literários da Sá Editora.
O que faz do livro "As preces são imutáveis" ser tão simpático e atraente é a forma como as belas histórias são contadas para nós, leitores. É quase impossível não resistir ao chamado de puxar a cadeira ou sentar-se no sofá da casa de Rosella para escutar as suas conversações com Pelin. Fácil é aceitar o convite. Difícil é esquecer as histórias...
SOBRE O AUTOR:
Publicou seus primeiros textos pela revista Varlk, quando ainda cursava o ensino secundário. Seu livro de poesia Ayabakanlar(Adoradores da lua), ganhador do Prêmio Yazar Nabi Nayir, foi publicado em 1994. Em 1997 dividiu o Prêmio Erguvan Balkan com o escritor bósnio Izzet Saraylic. Um segundo livro de poesias, Akademi (Academia), veio à luz em 1998. O primeiro romance, Git Kendini Çok Sevdirmeden (Parta antes que eu morra), de 2002, despertou grande entusiasmo e tornou-o uma estrela dos acontecimentos literários no Leste Europeu. Bu sate Bir Yalnizlik Var (Caminho da solidão) e Bazi saiirler Bazi sçarkilar (Alguns poemas, algumas canções) foram publicados em 2003. Publicou ainda Yolda Üç Kisi (Três na estrada) e As,K. Neyin Kisaltmasi?(O que é A.M.O.R.?), em 2005. Premiado pela produção de curtas, também assina colunas em revistas. Gravou um CD de ethnic rock, com o grupo Kumdan Kaleler (Castelos de areia) e um álbum solo (Denize Dogru / Olhando o mar) como compositor e solista. É casado e pai de um menino.
Leia aqui a entrevista que o autor deu à Folha.
Não sei se eu leria. Apesar de ter gostado da sua apresentação do livro, estou meio que fugindo de enredos mais sérios como esse. Andei numa fase de ressaca literária braba e para curar, nada melhor do que enfiar o nariz naqueles gêneros que a gente mais gosta rs
ResponderExcluirO autor é bonitão hein!
Bjs,
Kel
www.itcultura.com
Thi, o melhor da resenha foi o grand finalle, adoreeei! Bem parecido com todos os finais que vc faz! Muito criativo!
ResponderExcluirO senhorzinho podia ter contado o final da história tb :D rsrs, mas sei q seu intuito é deixar sua mana fã de 2GM louca da vida , rsrs. Abracão, quero vir aqui maaaais vezes, agora tá mais facil! o/